O atual Afeganistão foi território regularmente invadido por forças externas, desde os tempos do persa Dário I (rei dos reis – Shahanshah), do grego Alexandre Magno, do mongol Genghis Khan e do turcomano Tamerlão e, mais recentemente, por britânicos, soviéticos e americanos. O povo respondia aos desafios, geralmente, com emboscadas e parcos meios, através de guerra subversiva, aproveitando-se das irregularidades do terreno e da forte resiliência das populações locais, divididas em tribos, sobretudo de origem pashtun que apoiavam os seus heróis oferecendo alojamento e alimentação. Neste contexto, tem sido difícil introduzir uma democracia do tipo liberal ou ocidental no Afeganistão atendendo às características tribais de uma sociedade hierárquica, clientelista, poligâmica e tradicional, em que a religião dominante é a islâmica (dividida em cerca de 80% sunitas e 20% xiitas), não obstante uma pequena percentagem de cristãos, hindus, sikhs (e outros) que também possam existir no terreno. Atualmente, o Afeganistão tem como capital Cabul, o grande centro político e económico do país, sem esquecer que cerca de 75% da população é rural.
As guerras entre britânicos e afegãos foram três, entre 1838-1842, 1878-1880 e 1919-1921. O Afeganistão torna-se independente dos britânicos em 1921. Foi uma monarquia de 1926-1973, período após o qual se instaurou a República. A guerra entre soviéticos e afegãos prolongou-se entre 1979 e 1989. Os talibãs dominaram o país entre 1996 e 2001, até que o poder dos fundamentalistas islâmicos foi derrubado pelos EUA, meses após o ataque terrorista às torres gémeas. Em 2021, o Presidente Biden deu ordens ao exército americano para abandonar o Afeganistão, processo que terminou em agosto deste ano.
Do ponto de vista geoestratégico, o país é um enclave montanhoso da Ásia Central entre o Irão, o Paquistão, a China e as ex-repúblicas da URSS (o Tajiquistão, o Turquemenistão, o Uzbequistão). É uma encruzilhada onde convergiram interesses russos, de países vizinhos e dos EUA (no rescaldo da guerra fria e dos ataques terroristas de 2001). Estes cobiçam os recursos naturais da região ou pretendem minar os santuários dos terroristas jihadistas locais.
No que concerne à China, o Afeganistão pode ser um interlocutor para o projeto da OBOR (novas rotas da seda). Em 2021, a potência já admitiu negociar com os talibãs e ajudar a dinamizar o setor dos minérios (incluindo na região de Mes Aynak, que explora o cobre mas também tem planos para as suas reservas de lítio que possam alimentar a anergia de telemóveis e carros elétricos ou híbridos).